Espaço Cultural
do Povo
Xukurú do
Ororubá

FILHO DA NATUREZA

Assim falava o cacique Chicão:

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"Há uns dez anos, os encantados na pajelança falaram que tinha uma pessoa para ser uma liderança na área, aí disse para o pajé que era eu".

"Tá no querer da natureza, a natureza é quem disse, e a gente não pode se negar".

"Aí, conversando com um missionário, ele começou a explicar aos pouquinhos o valor que o índio tem, o direito que o índio tem e a obrigação que o governo tem para com os índios".

"Comecei a me interessar pela demarcação de terra porque, até então, eu achava que o trabalho da gente de cobrar a terra era irregular, era fora da lei".

"Veio a Constituinte de 88 e era importante a gente debater com deputados e senadores. Mas eu era atrasado, o cacique também era atrasado e lá em Brasília, de cara, me botaram para abrir as portas do Congresso Nacional, nos trabalhos da Constituinte, e eu topei essa barra pesada. Não conhecia o Congresso, não conhecia a Funai, mas enfrentei o debate".

"A perseguição cresceu cada vez mais, fizemos muita pressão e conseguimos delimitar e demarcar a área".

"A Funai, desde a época de Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, vem fazendo um trabalho de centralização, tirando o direito do índio ser educado e ter o tratamento de saúde assistido".

"Existe um interesse muito grande dos fazendeiros, de muitos políticos que se sentem poderosos, desses grandes latifundiários, dessas empresas multinacionais que hoje está complicando totalmente a vida do índio no Brasil..."

"Meu pensamento é de me articular com outras lideranças, comunidade e entidades para fazer um projeto de um hospital para nós em Vila de Cimbres e para toda a gente que vive aqui".

"Nunca gostei de prometer nada a ninguém, porque nada eu tenho para prometer, nunca tive, nem meus parentes. A gente trabalha, e a conversa é a seguinte: ‘Vamos trabalhar juntos, lutar juntos, pois é lutando organizados é que a gente consegue alguma coisa’. Então, isso é o mesmo trabalho de um vereador, de um prefeito, de um deputado".

"A gente não tomou conta de nada, a gente apenas vai atrás de uma coisa que a gente sabe que tem direito".

(1) EM: Revista PORANTIM. N 206. Junho/Julho 1998: p. 16