Espaço Cultural
do Povo
Xukurú do
Ororubá

ASSASSINADO LÍDER XUKURU

De: Flávio Jardim, Taíza Brito e Leila Núbia Cunha (1)

O cacique da tribo Xukuru, Francisco de Assis Araújo, o "Chicão", 48, foi assassinado, ontem, por volta das 9h30, com seis tiros de pistola 360 mm, quando estacionava o veículo oficial da Funai, o jipe branco placa KHM- 2269, na frente da residência de sua irmã, Maria das Montanhas Araújo, no bairro dos Xukurus, neste município. Segundo a delegacia do município, ele foi alvejado dentro do carro por um desconhecido alto e magro, que usava um boné branco e fingia estar telefonando em um orelhão próximo. Quando o cacique estacionou, o assassino teria corrido em direção ao veículo, disparando a pistola. Os tiros atingiram a cabeça, nuca, costas e a barriga. Segundo testemunhas, o cacique não pôde reagir, dando apenas um grito.

Segundo o médico plantonista do Hospital Dr. Lídio Paraíba, Severiano Cavalcanti, o índio já chegou ao local sem vida e morreu devido a uma hemorragia aguda, proveniente das perfurações por balas. O delegado de Pesqueira Cleodon Calado já iniciou investigações para tentar localizar o assassino, mas até o final da edição não tinha qualquer pista do assassino, que fugiu correndo, ameaçando as pessoas que estavam na rua na hora do crime.

O vereador índio de Pesqueira, Antônio Pereira, conta que "Chicão" vinha sendo ameaçado há mais de oito anos. As ameaças eram sempre anônimas. Mas, segundo se comenta na cidade, ultimamente, ele vinha tendo desavenças com a ex-esposa, que também o teria jurado de morte. A polícia não confirma qualquer das versões. O crime chocou todos os segmentos da sociedade local e a prefeitura decretou luto oficial por três dias. Centenas de pessoas tumultuaram a entrada do Lídio Paraíba para saber do crime. No início da tarde de ontem, surgiram boatos, que um grupo de índios, revoltados com a morte do líder Xukuru, iria invadir o centro da cidade, gerando o fechamento de lojas. O vereador-índio negou os boatos, afirmando que os Xukurus "querem apenas justiça e chorar a morte do cacique".

Embalsamado:

No final da tarde de ontem, o corpo de "Chicão" chegou ao Hospital Getúlio Vargas, no Recife, onde foi necropsiado e embalsamado, antes da liberação, de volta a Pesqueira. Demonstrando solidariedade ao Tribo Xukuru, o próprio governador Miguel Arraes, acompanhado de líderes políticos, esteve no local, ontem à noite. Muito abalado, os líderes indígenas que acompanharam o corpo sob escolta de policiais militares de Pesqueira e Belo Jardim, disseram que o enterro seria hoje, por volta das 14h30, na Aldeia Pedra D’Água onde a vítima morava. Os Xukurus pretendem realizar rituais fúnebres com a dança típica, o Toré. Após o sepultamento, os líderes querem uma audiência com a administração regional da Funai no Recife para exigir providências e clamar por justiça.

A administradora regional substituta da Fundação Nacional do Índio (Funai), Estela Parnes, enviou ofício, ontem de manhã à Polícia Federal solicitando a apuração do caso. Uma equipe de dez homens da PF viajou, ontem ao município para verificar se existe ligação com a questão fundiária. Em caso afirmativo, o delegado de Ordem Política e Social, Carlos Fazzio, presidirá o inquérito.

"Chicão" integrava a comissão coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME). Em março último, liderou a ocupação da Fazenda Tianante, adquirida por Leonardo Gomes após o processo de demarcação física da reserva, em 1995. O objetivo da ocupação era pressionar a Funai a obter, junto ao Governo Federal, a retirada, com indenização, dos posseiros que estão na Reserva, de 27.555 hectares, na Serra do Ororubá, onde vivem 6.636 índios. A área ainda inclui 290 posses de não-índios. 

(1) EM: Jornal do Comércio – Recife. 21 / 05 / 1998