Espaço Cultural
do Povo
Xukurú do
Ororubá

MATARAM O HOMEM –

MAS NÃO VÃO CALAR A VOZ ...

(1)

No dia 20 de maio de 1998., mais ou menos à 9.00 h do dia, um homem de estatura meio alta, de média idade, boa aparência – aproximou-se de Francisco de Assis Araújo e iniciou uma conversa. O Chicão, como é mais conhecido, atendeu à chamada do homem e, sem desconfiar, deu a sua devida atenção, acompanhando a conversa com este homem. Isto durou não mais de cinco minutos.

Chicão, então dirige-se ao jipe que estava estacionado perto, na frente da casa de sua irmã Marly, na rua Coronel Leonardo, N.º 49, no bairro Xukuru. O homem acompanhou Chicão, deixando-o entrar no jipe. Neste instante, aproximou-se mais do jeepe e deu 6 tiros a queima roupa. 2 tiros pegaram no pescoço, ferindo-o mortalmente, nem dando tempo para soltar o último grito de revolta e/ou ... socorro!

O homem fugiu a pé e ao chegar no local da feira (que fica perto), misturou-se com a massa do povo, desaparecendo...

Chicão, levado à pressas para o hospital, no centro da cidade de Pesqueira, não teve nenhuma chance de sobrevivência, pois já tinha falecido no caminho!

Este relato de testemunhas oculares revela um fato importante: Chicão não desconfiava da pessoa que o assassinou. A conversa com o mesmo foi em tom de cordialidade, sem chamar atenção de ninguém dos presentes. Chicão sempre estava para todos, atendia bem a todos e ajudava na medida do possível a resolver os problemas, mesmo de desconhecidos e, aparentemente, estranhos...

Já tinha recebido várias ameaças de morte e sabia que estava jurado de morte por fazendeiros da região.

Podia-se dizer que não prestou atenção, que vacilou na sua permanente vigilância?

Esta grosseira traição grita por justiça – exige uma apuração rápida, sem intermédios, sem vacilação, com todo o rigor – prendendo e condenando os culpados: o assassino e, principalmente, o(s) mandante(s)!!

Chicão estava para ajudar a todos, seja quem fosse – nunca se negara de atender alguém que vinha lhe pedir um conselho, dava a sua resposta e tentara confortar a cada um.

Chicão, claro que tinha sua preferência por todos os componentes dos povos indígenas, principalmente o seu povo Xukuru, chamando muitos vezes os outros índios de "parentes", não era de se negar quando consultado sobre problemas de outrem, mesmo se tratando de não-índio.

Foi isto que o levou à morte – a sua extrema disposição de atender bem a todos, seja quem fosse e em qualquer situação!

A sua vida sempre estava cheia de mística, transmitia uma energia positiva para todos em seu redor. Lutava por um mundo melhor para todos, sem querer excluir ninguém!´

Esta luta continua. Cada um na sua posição, no seu meio, conforme as suas reais possibilidades - este exemplo de Chicão deve e vai impulsionar a todos: tanto os seus "parentes", como a nós, amigos, admiradores e seguidores de sua grandiosa mensagem de paz na terra entre todos!!

De: Aloys I. Wellen
Junho de 1998