Espaço Cultural
do Povo
Xukurú do
Ororubá

Relatório:
Viagem ao Povo Xukuru

5 a 10 de Dezembro de 1997

Campina Grande, Dezembro 1997

Reunião com o Reitor – dia: 04 / 12 / 1997:

Participantes: Magnífico Reitor, Prof. Sebastião Vieira Guimarães;
Presidente da FURNE, Prof. Renato;
Chefe do Gabinete do Reitor, Prof. Luís Gonzaga de Melo;
Coordenador do Projeto, Prof. Aloys I. Wellen.

Inicialmente, o Magnífico Reitor da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB -, Prof. Sebastião Vieira Guimarães, informou aos presentes que o convênio FURNE / XUKURU / GTZ foi assinado no dia 30 de Novembro passado.

Esclareceu que este convênio de cooperação entre a Universidade Estadual da Paraíba e a Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit – GTZ – (da Alemanha), em apoio ao Povo Indígena Xukuru, localizado entre Monteiro-PB. e Pesqueira- PE., é uma iniciativa inédita para as universidades, pois levará em conta a organização deste povo indígena que servirá como articulador e modelo para os outros povos indígenas no Nordeste e comunidades de camponeses e agricultores. Esta cooperação prevê uma contribuição financeira por parte da GTZ no valor de DM 35.000 e uma contrapartida, por parte da UEPB na mesma importância. Os recursos, por parte da Instituição Alemã, ou seja, da GTZ, em breve deverão estar a disposição da FURNE, enquanto a UEPB já estava apoiando esta cooperação há mais de 2 anos, também financeiramente. A FURNE administrará este projeto e também ficará responsável pela prestação de contas.

O Prof. Renato, Presidente da Fundação Universitária de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão – FURNE -, informou que já foi aberta uma conta exclusiva para este projeto no Banco do Brasil, Agência de Campina Grande, na rua 7 de Setembro, Centro.

Logo em seguida, o Prof. Sebastião solicitou todo o empenho dos participantes para que este convênio possa dar a sua contribuição a todos os povos indígenas do Nordeste, pois, este projeto foi concebido e elaborado como projeto modelo de ajuda à auto-sustentação de todos os povos indígenas do Nordeste, inclusive do povo Potiguara, na Baía da Traição, perto de Mamamguape, como também para associações e/ou cooperativas de camponeses e agricultores.

Em seguida, o Prof. Aloys fez um relato sobre a situação do Povo Xukuru. Transmitiu, inicialmente, que o povo indígena Xukuru agradece o apoio que está recebendo da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB -, mas ao mesmo tempo, insiste que seja lembrada a gravidade da situação de estiagem. Esclareceu que a ausência de chuvas é grande e as previsões meteorológicas sobre uma possível seca estão se concretizando cada vez mais. Relembrou que a parte referente ao incentivo e concretização de fazer silagem, a aquisição da forrageira, precisa ser resolvida com urgência, pois se for adiada por mais tempo não haverá mais a "matéria prima" para fazer a silagem, haja vista que a seca está se apresentando de maneira marcante.

Ao que se refere à contratação do Coordenador Técnico, Sr. Francisco Siqueira, o Magnífico Reitor determinou que o contrato deste seja efetuado a partir de 01 de janeiro de 1998.

Em seguida, o Magnífico Reitor, Prof. Sebastião Vieira Guimarães, então, solicitou do Prof. Renato todo o seu empenho para ver e resolver o problema da liberação dos recursos necessários para a efetivação das compras, lembrando que a contribuição financeira, por parte da GTZ, já nos próximos dias deve estar no Banco do Brasil, Agência de Campina Grande.

Ainda, o Magnífico Reitor solicitou ao Prof. Aloys que, na ocasião de sua próxima viagem de estudos ao povo Xukuru, transmita a sua preocupação e, ao mesmo tempo, a autorização pela UEPB em efetuar a aquisição de 01 (uma) forrageira para silagem.

Reunião de trabalho na FURNE:

Dando continuidade à reunião com o Magnífico Reitor, os Professores Renato e Aloys, discutiram como resolver as decisões tomadas, nesta ocasião.

O Prof. Renato em nome do Reitor reiterou o compromisso da FURNE em autorizar e, em seguida, efetuar o pagamento da forrageira. Lembrou, no entanto, que é preciso fazer o levantamento de preços em forma de 3 orçamentos, com a discriminação do modelo, capacidade etc., do equipamento a ser comprado, de firmas diferentes. A compra será autorizada para a firma que apresentar o melhor equipamento com o melhor preço, mediante a licitação.

Sábado, 6 / 12 / 1997:

Viagem ao Povo Xukuru:

Participantes:

de Campina Grande:
# Sr.ª Josélia M.ª Ramos Wellen, Professora de Geografia do Nordeste
na UEPB e Orientadora Pedagógica Educacional;
# Sr. Henrique André Ramos Wellen, Técnico em Computação e Estudante
de Administração;
# Sr. Aloys I. Wellen, Prof. de Direito e Educação e Coordenador do
Projeto FURNE / XUKURU / GTZ;

de Uirauna:
# Sr. Franz, Encarregado do projeto por parte da Cooperação Alemã e
Coordenador Técnico da Fábrica do Fogão Solar;
# Sr. José, Coordenador Técnico da Paróquia de Uirauna e Co-responsável
pela Fábrica do Fogão Solar;

# Sr.ª Ana Lúcia, Articuladora do Projeto do Fogão Solar.

Os dois grupos, o de Campina Grande e o de Uirauna tinham combinado que se encontrariam em Pesqueira, na casa de D. Marli, no bairro Xukuru, entre 12 e 13 horas, do dia 6 / 12, para então, seguir em conjunto para o povo indígena Xukuru.

Os de Campina Grande chegaram às 12.30 h. O Sr. Zé de Santa, Representante do Povo Xukuru, já estava esperando os Grupos de Trabalho (GT) de Campina Grande e de Uirauna, na cidade de Pesqueira.

Às 13. 15 h. telefonou o Sr. José, do grupo de Uirauna, avisando que eles ainda estavam em São José de Egito e ainda demorariam 3 horas para chegar ao nosso local combinado.

O Sr. Zé de Santa, então, fez a proposta de iniciar a discussão pedagógica com a Profª. Sandra, Diretora de Grupo Escolar na Vila de Cimbre. Após uns 40 minutos de viagem chegamos na aldeia da Vila do Cimbre e a nossa companheira, Profª. Josélia, juntamente com Zé de Santa, visitaram a Professora Sandra.

Discutiram sobre a situação da escola. A Sra. Sandra colocou os problemas do seu grupo escolar municipal:

Os alunos são muito esforçados, vem até de longe para não perder as aulas; estão planejando introduzir, no conteúdo curricular, também o ensino e a compreensão das tradições e costumes do seu povo indígena; falta apoio por parte das autoridades para poder oferecer melhores condições de ensino; os professores e alunos da localidade (Cimbres) realizaram, recentemente, uma Feira de Ciências, elaborada toda com material confeccionado pelos próprios alunos, demonstrando, antes de tudo, as características e costumes do povo indígena. Pela avaliação dos pais dos alunos, como também de outros visitantes foi um sucesso e demonstrou além da capacidade e criatividade dos alunos, também o grau de compreensão de sua realidade.

A Profª. Sandra convidou a Profª. Josélia para participar do encontro de planejamento e preparação de todos os professores dos grupos escolares do povo indígena Xukuru, que se realizará nos dias 9 a 10 de fevereiro vindouro, numa determinada aldeia do povo Xukuru.

A Profª. Josélia anotou a data e prometeu participar do encontro e contribuir no que for possível.

Em seguida, o Sr. Zé de Santa convidou todo o G.T. de Campina Grande para conhecer a aldeia de Sucupira, distante da Vila de Cimbre uns 15 km.

Fomos para a casa do representante da aldeia Sucupira, no Conselho do Povo Xukuru, Sr. José Jorge. Após a apresentação de todos os presentes visitamos a Casa de farinha Comunitária, construída recentemente. A casa de farinha pertence a esta aldeia, mas atende também a outros agricultores que precisarem usá-la para fazer a farinha de mandioca. Ela tem capacidade de fabricar de 300 kg de farinha, por dia. Fica sob a responsabilidade do Sr. José Jorge, que cobra uma taxa de manutenção por usuário, conforme a sua produção de farinha. Esta taxa é destinada, principalmente, para criar um fundo de manutenção, conservação e futura aquisição de maquinário para outra aldeia .

Enquanto nós (homens) discutíamos o funcionamento da Casa de Farinha, a Profª. Josélia falava com um grupo de Senhoras desta localidade. Estas mostraram o seu confeccionamento de artesanato, em croché e em renascença.

Em seguida, o representante desta aldeia, o Sr. José Jorge nos convidou para participar do Toré da comunidade, que ia se realizar naquela tarde.

Andamos 01 km para chegar ao local da realização do Toré, o "espaço sagrado", onde se processa o ritual de dança, música e orações. Já tinha umas 30 pessoas esperando pelo Sr. Representante, pois este dá início às cerimônias do ritual.

Nós, (Josélia, André e Alois), ficamos bastante impressionados com a compenetração dos participantes no ritual do Sagrado. Num intervalo, o Sr. José de Santa, que é um dos Lideranças do cacique (Liderança geral do povo Xukuru) nos apresentou, falando da nossa vinda, do projeto de cooperação, da nossa amizade e dos trabalhos já realizados. Logo em seguida, solicitou para cada um de nós dirigir umas palavras aos presentes e assim, falaram Aloys, Josélia e André das impressões e da importância deste povo na sua luta em conservar a sua cultura, suas tradições e seus costumes. Constatamos que eles são os baluartes da cultura do Brasil, lutam pela independência do Brasil nos dias de hoje. Embora esta luta custe muito caro para cada um deles. Na nossa compreensão, devem e podem sentir-se como nossos exemplos e os pioneiros de coragem e perseverança...!

Em seguida, o Representante continuou o ritual, terminando-o com uma dança especial.

Depois de encerrado o ritual, o Sr. José Jorge nos explicou algumas das significações do ritual que assistimos; mostrando a sua importância para o seu povo, como também a grande variedade de formas de apresentar a sua crença e sua fé em Deus – Pai, seu Filho, Jesus Cristo, e Nª Sra. das Montanhas, a Mãe Santa do Povo Xukuru.

Agradecemos emocionados o convite de termos tido a alegria de poder participar do ritual do Sagrado – o Toré - que, antes de tudo, constatou e ratificou a confiança que eles tem em nossa sinceridade. Da nossa parte, só podíamos agradecer e prometer continuar com o nosso compromisso pela causa indígena...!

Como já era quase 17 h., voltamos para Pesqueira, onde a equipe de Uirauna já estava a nossa espera. Depois de congratularmos, fomos em direção a aldeia de Pedra D’Água.

A equipe de Uirauna ficou na casa do representante da aldeia de São José, Sr. José e D. Maria, onde vão ficar hospedados nestes dias.

Nós outros, com o Sr. José de Santa como guia, seguimos caminho para a aldeia Pedra d’água, numa estrada de chão batido, distante de Pesqueira cerca de 25 km.

Chegamos na casa do Sr. Cacique do Povo Xukuru, Sr. Chicão, às 19.30 h. Fomos recebidos por D. Zenilda, esposa do cacique. Ela nos apresentou aos presentes e após a troca das boas vindas, fomos para as casas de nossa hospedagem. Enquanto André ficou na casa do cacique, Josélia e Alois foram para a casa de Zé de Santa.

Domingo, 7 / 12 / 1997:

Apresentação do Fogão Solar, na aldeia de Pedra D’Água:

Após uma noite bem dormida, aconchegante por causa da ventilação nesta "serra" de Ororubá, fomos acordar às 6 h. O Sr. Zé de Santa já estava trabalhando na roça. Para ele há pouco tempo disponível para este seu sustento de vida, por causa das muitas ocupações comunitárias que exigem muita disponibilidade de tempo. Mas, como Zé de Santa explicava, os vizinhos também ajudam bastante nos trabalhos da roça, pois estes sabem valorizar os trabalhos que ele realiza em prol da comunidade.

Após ter tomado o café da manhã, preparado por D. Madalena (esposa de Zé de Santa), fomos para a casa do cacique, Sr. Chicão, para onde foi combinado a apresentação do fogão solar. Lá já se encontravam vários Xukurus esperando, para poder ver, sentir e avaliar a grande novidade do dia, trazendo um pouco mais de conforto e, principalmente, economia para o dia a dia, antes de tudo em benefício da cozinha de cada casa....

A equipe de Uirauna chegou às 8 h. em Pedra d’água. Na camioneta já tinha 2 fogões montados – de longe pareciam ‘Antenas Parabólicas’.

Foram apresentados ao cacique da aldeia, Sr. Chicão, que com suas boas vindas expressava a vontade de todos em conhecer o fogão solar e suas vantagens, já tão divulgados por Zé de Santa e pela equipe de Campina Grande.

Logo colocamos os dois fogões já montados em posição de receber os raios solares e botando as panelas com água, notou-se de imediato como o sol fazia o trabalho de ferver a água. Não precisa mais de lenha para cozinhar ou de gás de cozinha...! Alguns outros, mais curiosos, estendendo a mão no foco da recepção dos raios solares – sofreram leves queimaduras. As primeiras impressões e os contatos com a novidade do aproveitamento da energia solar já estava trazendo as primeiras conseqüências...!

Então, vencidas as primeiras curiosidades, convidamos os presentes para observarem e participarem da montagem de outro fogão solar.

Mas, para nossa surpresa, várias pessoas já haviam falado com o Sr. Zé de Santa, fazendo o seu pedido de compra do fogão solar. Insistimos que todos, antes de comprar este novo aparelho, tentassem descobrir as suas vantagens, como também as suas (eventuais) desvantagens e – antes de tudo – aprendessem como montá-lo. e manuseá-lo.

Notamos como foi grande o interesse em aprender a montagem do fogão solar! Muitos ajudaram a José (de Uirauna), uns pegando os parafusos outros segurando as peças a serem colocadas. Ao todo, umas 30 pessoas ajudaram na montagem do fogão solar.

No meio da montagem fizemos um intervalo para explicar melhor as vantagens deste fogão solar:

- não precisam mais colher lenha para o fogão;
- diminui consideravelmente o desmatamento da própria área indígena;
- não tem os gastos em comprar o gás para o fogão;
- enquanto o sol cozinha a comida, a pessoa pode cuidar de outros afazeres;
- o fogão solar funciona todo o tempo quando houver sol, quer dizer,

além de fazer a comida pode ser utilizado para outras finalidades, como, p. ex.,
. ferver água de beber,
. cozinhar frutas,
. secar frutas ...

O Sr. José, da Oficina de Uirauna, explicou, também, que é imprescindível o uso da "panela preta" para o fogão solar.

O tamanho desta panela deve ser do diâmetro da grelha montada no próprio fogão solar.

No meio da montagem do fogão solar, o Sr. Zé de Santa aproveitou o tempo para fazer uma reunião com os associados presentes da Associação do Povo Xukuru. Discutiu vários assuntos de interesse geral. Falou também da renovação das carteiras dos associados. A partir de janeiro de 1998 todos desta associação terão suas carteiras renovadas. André colocou-se a disposição de ajudar na confecção das novas carteiras. Por isso, ficou combinado que ele mandará, no dia 15 de dezembro, por ocasião do encontro do Sr. Alois com o Sr. Zé de Santa, 4 – 5 modelos de carteiras, feitas no microcomputador e imprimidas na Impressora 680 C, para serem avaliadas e escolhido o modelo definitivo. Num prazo de 1 mês o Sr. André confeccionará, então, as novas carteiras para os associados do Povo Xukuru, numa média de 900 – 1.000 carteiras.

Em seguida foi servido o almoço para todos os presentes: mais de 40 pessoas almoçaram comida cozinhada no fogão solar!

Logo depois do almoço o cacique do Povo Xukuru, o Sr. Chicão, fez um relato da sua viagem à Brasília. Foi cuidar, mais uma vez, da assinatura, publicação e homologação da delimitação da área indígena do povo Xukuru. Relatou os vários empecilhos que estão surgindo, sempre de novo, criados, principalmente, pelos fazendeiros que (ainda) estão ocupando áreas dentro do território do povo Xukuru.

Ressaltou que precisam ter, antes de tudo, muita paciência para resolver estes grandes obstáculos, mas, com a união de todos vão vencer esta questão.

Então houve o tradicional "cochilo". Quer dizer, cada um fez um pequeno repouso, mais ao modo de cada um, antes de iniciar a próxima tarefa do dia...

Convite para participar do ritual da Aldeia Pedra D’Água:

  • Local reservado para o ritual:

O local do ritual sagrado, o Toré, fica numa área reservada, nas montanhas da serra do Ororubá. Além do povo Xukuru, só pessoas especialmente convidadas tem acesso à área sagrada do Toré.

  • muitas pessoas se dirigindo para o local:

A partir de 15 h. muitas pessoas, índios Xukuru estavam se dirigindo para o local sagrado, para festejar o ritual.

  • o encontro dos parentes índios:

É impressionante e contagioso, como já nesta caminhada para o local do sagrado, cada um dos Xukuru se prepara para o ritual, tentando, antes de tudo, criar um clima de relaxamento e distração.

  • a cordialidade conosco, os visitantes:

O cacique convidou-nos pessoalmente para participar do ritual do Povo Xukuru de Ororubá.
É uma caminhada longe, mais ou menos de 4 – 5 km subindo a serra, subindo e passeando pela Mata da Serra de Ororubá.

  • o ritual:

Cada um de nós ‘Novos participantes’, tanto de Campina Grande, como de Uirauna, tivemos impressões diferentes, muito pessoais.

No entanto, constatamos que realmente trata-se de um cerimonial que transmite o espírito de união. Fortalece os participantes, ou seja, antes de tudo, une-os pela preparação de cada um, pelo relaxamento e/ou pela concentração propriamente dita, ajudado e incentivado pelo Mestre do Cerimonial.

  • o convite para o nosso grupo, de participar na dança:

No meio da realização do ritual fomos surpreendidos pelo convite, formulado pelo cacique e o mestre do cerimonial: somos convidados para participar da dança do Toré! Realmente foi uma honra muito grande para cada um de nós e agradecemos emocionados por tanta honra e consideração!

  • Josélia dança o Toré na aldeia Pedra D’Água:

Do grupo dos visitantes Josélia aceitou o honroso convite e dançou, juntamente com o povo Xukuru, o Toré. Achamos muito bom ela aceitar, pois nós outros, estávamos ‘um pouco’ envergonhados de participar, com medo de atrapalhar o ritmo da(s) dança(s)... Desta maneira, Josélia em nome de todos nós, participou pela primeira vez do ritual, ou do Sagrado do Povo Xukuru de Ororubá: o Toré.

É difícil descrever sobre este ritual:

tem vários ritmos, danças e orações e momentos de formação e de informação, como também distribuição de tarefas a serem realizadas. O Mestre de Cerimônias e sua equipe são os primeiros a iniciarem estas fases. Usam instrumentos para desenvolver o ritmo e facilitar o acompanhamento de cada participante.

Reunião com todos os presentes:

O ritual foi ‘interrompido’ pelo Mestre do Cerimonial para as comunicações etc. Em primeiro lugar falou um dos lideranças, comunicando informações de interesse para todos.

Em seguida, o Sr. Zé de Santa, chamou os Visitantes de Campina Grande e de Uirauna para perto dele e nos apresentou. Falando sobre a finalidade de nossa vinda, ressaltou a importância do Fogão Solar para as famílias do povo Xukuru.

Logo em seguida, convidou cada um de nós para dirigir palavras aos presentes. Cada um de nós falou à sua maneira, destacando, sempre, a cordialidade recebida e as impressões constatadas.

  • Relato de representantes de aldeias do Povo Xukuru:

Em seguida, os diversos representantes das aldeias do povo Xukuru, fizeram os seus relatos e informaram sobre os problemas mais atuais e mais urgentes a serem enfrentados.

  • Avisos para as diversas atividades:

Várias lideranças falaram em seguida, principalmente sobre as atividades a serem realizadas durante a próxima semana. Foram feitas vários questionamentos e/ou observações pelos presentes.

  • Palavra do cacique Chicão

Finalmente, chegou a vez do cacique. O respeitado cacique do Povo Xukuru, Sr. Chicão falou durante uns 15 a 20 minutos. Todos estavam bem atentos e notava-se o grande interesse, não somente em ouvir, mas muito mais em compreender as colocações do grande líder.

Encerramento do Toré:

- O ritual próprio para a despedida:

Para nossa surpresa continuava o ritual após o encerramento das falas dos representantes e lideranças. Os Xukuru reiniciaram a dança com um ritual próprio, desta feita, para o encerramento do Toré,

  • Palavras de despedida e incentivo para a luta diária:

O Mestre do Cerimonial, ao final da dança, dirigiu algumas palavras aos presentes, informando da próxima reunião do ritual e desejando bons êxitos para cada um!!

  • Despedida individual

Para nós visitantes foi uma surpresa que muitos dos presentes chegaram ao nosso encontro, falando conosco e se despedindo. Agradecemos emocionados tanta cordialidade, antes de tudo, por nos inteirar da luta pela causa indígena e prometemos voltar para novo(s) encontro(s)...!

Conversa com Zé de Santa e alguns representantes:

Depois do jantar, na casa do Sr. Zé de Santa, fizemos uma reunião informal para discutir vários assuntos pendentes, entre estes:

Avaliação dos trabalhos já em execução:

  1. Criação de cabras e ovelhas:

A criação de cabras e ovelhas é de fundamental importância para garantir uma subsistência aos índios Xukuru. Mas atualmente apresenta-se um grande problema que consiste na falta de um cercado seguro no pasto comunitário para as cabras e ovelhas. O sistema atual, de vários arames, sempre apresenta problemas, pois, principalmente as cabras passam pelos arames, mesmo sendo colocados 8 arames. Por isso, foi planejado aproveitar a técnica da cerca elétrica, movida a energia solar, que, nos pastos da Europa, apresentam excelentes resultados. Numa das viagens à Alemanha, Alois trouxe um modelo deste tipo, um aparelho de energia solar, que é bastante usado tanto nos Estados Unidos como na Europa.

2. Dificuldades com a cerca elétrica movida a energia solar:

Entretanto, mesmo seguindo à risca as instruções de instalação e manuseio, o aparelho de energia solar, (ainda) não está funcionando. Mesmo instalado num cercado pequeno – como modelo -, e tendo treinado cada um dos animais para "respeitar" a cerca elétrica, sofrendo, inicialmente, um choque elétrico, os animais passam pelos arames, invadindo os roçados em redor.

Precisa-se encontrar, com toda a brevidade possível, uma solução viável. Os muitos criadores estão ansiosos para resolver o problema da criação. Levantou-se a hipótese que Chico, o Coordenador Técnico, entrará em contato com técnicos competentes, aqui no Brasil, onde este sistema está funcionando a contento, trazendo, assim a solução para o povo Xukuru...!

3. Compra da forrageira para silagem:

Outro problema crucial é o abastecimento do animais com ração. Constata-se que estamos nas vésperas de uma seca, talvez a pior dos últimos tempos. Os alimentos naturais, principalmente o capim já está começando a secar e a ficar escasso. Como garantir a sobrevivência dos animais, base de sustentação do povo Xukuru??

Foi discutido, já na Universidade Estadual da Paraíba, em Campina Grande, com o Reitor, Prof. Sebastião Vieira, sobre a possibilidade da compra de uma forrageira, para silagem. Esta compra é de máxima urgência para garantir, também no futuro, a ração dos animais.

Ficou acertado que o Sr. Zé de Santa, juntamente com o Sr. Aloys, farão a compra de uma forrageira grande. Para isso, no dia 15 de dezembro, vão a Caruaru, fazer o levantamento dos preços e, se possível, já acertar, em definitivo, a compra da forrageira. Enquanto o Sr. Alois fará um levantamento de preços em Campina Grande, o Sr. Chico fará no Recife. Desta maneira, far-se-á a comparação destas três praças e efetuar-se-á a compra pelo preço mais acessível, sendo o melhor equipamento apresentado.

  • Criação de abelhas:

Também foi discutido a criação de abelhas, iniciada já há mais de um ano, no contexto deste projeto. Constatou-se que há necessidade de retomar os treinamentos interrompidos, como também de fazer um levantamento geral da situação dos criadores de abelhas. Há ampla compreensão sobre a utilidade de criação de abelhas, mas falta ainda maior conhecimento técnico, como meios disponíveis para executar melhor e de maneira mais ampla esta criação de abelhas.

Segunda-Feira, 8 / 12 / 1997:

Aloys levantou-se às 5.30 h. Nesta hora Zé de Santa já estava trabalhando. Aloys foi para a beira do riacho, fazendo a sua meditação diária... Em seguida, conversaram sobre os próximos passos a serem dados e como executá-los.

  1. Reunião com o Cacique, Sr. Chicão:
  2. Às 7.30 h. Zé de Santa, Aloys e Josélia estavam na casa do cacique. O Sr. Chicão falou sobre vários problemas que lhe causam enormes angústias, a questão de segurança e de sobrevivência do povo Xukuru.

    Notamos que a vida é difícil e mais ainda para cada liderança deste povo Xukuru! Precisa-se mais apoio, também em forma de acompanhamento das questões pendentes, p. ex. da homologação do território do Povo Xukuru.

    Em seguida, Zé de Santa, juntamente com o GT de Campina Grande, foi ao encontro da equipe de Uirauna, para dar continuidade aos trabalhos de apresentação e informação sobre o Fogão Solar, hoje previsto para a aldeia do Cimbre.

  3. Josélia conversa com outras professoras sobre os trabalhos:
  4. Josélia aproveitou o momento oportuno e conversou, por quase uma hora, com as professores reunidas na casa do representante de aldeia. Trocaram experiências dos seus trabalhos. No fim, combinaram encontrar-se nos dias 9 – 10 de fevereiro do próximo ano para discutir o planejamento anual...

  5. Ida para a aldeia Caípe:
  6. Como combinado, as duas equipes foram para a aldeia Caípe dando continuidade aos trabalhos. Esta aldeia fica distante de Pedra d’água cerca de 30 km, 1 h. de carro, por estradas de barro, com muitos buracos.

  7. Apresentação do fogão solar:
  8. Chegando à aldeia Caípe já tinha um grupo de umas 20 pessoas nos esperando, ainda chegaram mais pessoas, uns de cavalo, outros a pé.

    José e Franz, da equipe de Uirauna, instalaram um fogão solar já armado, colocando a panela preta com água para ferver. A curiosidade foi grande. Todos estavam com muito interesse para conhecer as facilidades oferecidas pelo novo fogão solar. Após alguns minutos, a água estava fervendo. Colocou-se então, o feijão com os ingredientes para cozinhar o nosso almoço...

  9. Montagem do fogão solar:
  10. Logo em seguida, iniciou-se a montagem de um outro fogão solar. José e Franz explicaram a utilidade de cada peça a ser montada e como proceder a montagem. Todos estavam prestando muita atenção. O trabalho da montagem durou cerca de 2 horas. Então o fogão solar armado, foi colocado na posição certa para receber os raios solares e cozinhar a outra parte da comida.

  11. Visita ao pasto comunitário:
  12. Enquanto se procedia a montagem do novo fogão solar, Zé de Santa convidou Aloys e André para visitar um pasto comunitário de criação de animais, não muito distante dalí. Fomos surpreendidos por uma curiosidade deste pasto: uma vez que se tratava de garantir o sustento dos animais e os criadores desta região não disporem mais de pasto, arrendaram (!) de um posseiro este pasto de 40 ha. Quer dizer: arrendaram a própria terra! Os criadores notaram a nossa surpresa, explicaram, então, que não foi encontrado outra solução viável...

    Este pasto comunitário foi arrendado por 60 dias. E então??

    Constatou-se a urgência da aquisição de uma forrageira para silagem. Se já tivesse sido comprado (como previsto e prometido!!), teria-se evitado este dilema e o problema de garantir o sustento dos animais.

  13. Os responsáveis apresentam as grandes dificuldades:
  14. Foi impressionante como cada um dos responsáveis pelo pasto comunitário colocou as enormes dificuldades e como tentam resolvê-las com suas próprias criatividades e idéias renovadoras...

  15. Urgência da forrageira:
  16. Zé de Santa colocou, mais uma vez, o nosso compromisso de agilizar a aquisição da forrageira. Disse, se for possível, já dentro de 15 dias ela deverá estar instalada e funcionando, produzindo ração para os animais e, principalmente, preparando a ração, em forma de silagem, para os próximos meses.

    Ao voltar, já estava na hora do almoço. Após o almoço (feijão, macarrão, arroz, e galinha cozinhada) fomos em direção à aldeia da Lagoa, onde o Sr. Zé de Santa faria outra reunião com os associados, enquanto a equipe de Uirauna faria outra apresentação do fogão solar...!

    Perto da aldeia Lagoa fomos visitar a aldeia Couro Dantas, onde mora o Sr. Cláudio com a família. O Sr. Cláudio, integrante na viagem a Uirauna, é o encarregado da educação do povo Xukuru.

    A equipe de Campina Grande volta....

    Desejando a todos os integrantes do GT bons êxitos na continuação das atividades, nós, de Campina Grande, iniciamos nossa volta, via Pesqueira. Antes porém, ainda em Pesqueira, tivemos um encontro com o cacique, o Sr. Chicão.

    A equipe de Uirauna, junto com Zé de Santa, visita a aldeia da Lagoa:

  17. Nova apresentação do fogão solar:

Como havia sido combinado, o GT de Uirauna, fez nova apresentação do fogão solar. Mesmo não sendo no horário ideal, pois já eram cerca de 4 h. da tarde, os presentes ficaram impressionados com a facilidade do novo fogão solar...

Terça-Feira, 09 / 12 / 1997:

Nova apresentação do fogão solar na Secretaria da Agricultura e da Educação, do Município de Pesqueira:

O representante do povo Xukuru na Câmara dos Vereadores do Município de Pesqueira, o Sr. Antônio Pereira, juntamente com a liderança do Povo Xukuru, o Sr. Zé de Santa e a Equipe de Uirauna, os Srs. José e Franz e a Srta. Ana Lúcia, atendendo convite da Prefeitura de Pesqueira, realizaram uma apresentação do Fogão Solar na cidade de Pesqueira.

Diante das autoridades desta região, mostraram a importância do Fogão solar, antes de tudo sob os aspectos de:

Uso de meios renováveis;
Luta contra a poluição do ar;
Importância da conservação do Meio Ambiente;
Importância da conservação da Mata e da Floresta;
Economia para o povo mais carente.

Visita à cidade de Pesqueira:

Em seguida, sob a orientação de vários amigos, fizeram uma demorada visita aos pontos mais pitorescos, como históricos da cidade de Pesqueira.

Quarta-Feira, 10 / 12 / 1997:

Volta da equipe para Uirauna:

A equipe de Uirauna, após uma carinhosa despedida dos novos amigos e conhecidos no meio do povo Xukuru, iniciou a viagem de volta à cidade de Uirauna.

Avaliação:

  • Pontos positivos:

A cordial recepção de todos que visitamos durante este extensivo programa de trabalho.
A disponibilidade de todos os presentes em discutir e querer aprofundar, em toda a amplitude, as questões colocadas, mesmo sendo, as vezes, delicadas para alguns dos presentes.
Esta viagem de estudos foi um sucesso para os participantes:
Os componentes das duas equipes, tanto de Campina Grande como de Uirauna.
Os resultados destes dias de encontro podem ser considerados como satisfatórios para o Povo Xukuru.

Além dos 05 (cinco) fogões de energia solar, que ficarão à disposição de comunidades no meio do Povo Xukuru, que serão financiados pelo Projeto de "Ajuda à Auto-sustentação", foram pedidos mais 27 (vinte e sete) fogões solares. Estes pedidos, em grande parte, foram feitos por grupos de famílias.

  • Pontos negativos:

O tempo disponível. Para uma programação tão vasta precisaria mais tempo. Mesmo assim foram realizados todos os trabalhos e tratados todos os assuntos previstos

Agradecimentos:

Aos casais Chicão e D. Zenilda, Zé de Santa e D. Madalena e José e esposa pela carinhosa hospedagem que nos ofereceram durante estes dias!

Ao povo Xukuru, especialmente ao seu Representante Maior, o cacique, Sr. Chicão, como também ao Mestre de Cerimônias, pelo carinhoso convite de não somente assistir, e sim participar do ritual sagrado, do Toré!

Ao Sr. Zé de Santa, liderança do povo Xukuru, que incansável na sua luta, sempre estrava ao nosso lado nestes dias.

A todos os Xukurus com quais tivemos a honra de conversar e de conviver durante estes dias, antes de tudo pela imensa paciência que tiveram conosco, não somente em nos explicar como também em nos responder às muitas perguntas, as vezes um tanto curiosas e penetrantes em relação à vida deles!

À D. Marli, em Pesqueira, que teve toda a paciência com o(s) atraso(s) das duas equipes e que demostrou ser peça importante na articulação!

Ao Pe. Domingos, da Paróquia de Uirauna, que possibilitou a ida da equipe e facilitará, pelas condições de compra, a aquisição do fogão solar para todos no povo Xukuru!

PS:

Quilômetros rodados:

Campina Grande a Pesqueira e volta (276 x 2) ................. 552 km
Viagens nas aldeias do Povo Xukuru ................................. 85 km
Uirauna a Pesqueira e volta (550 x 2) ........................... 1.100 km
Viagens nas aldeias do Povo Xukuru .................... ........... 110 km
TOTAL DE KM RODADOS .......................................... 1.847 km

 

Campina Grande, aos 14 de dezembro de 1997
A Equipe de Campina Grande: Aloys - Josélia - Henrique André