Espaço Cultural
do Povo
Xukurú do
Ororubá

T E R R A : Muita terra para pouco branco

"É comum se ouvir comentários sobre como "são grandes as áreas indígenas". "Há tanta terra para pouco índio", "as áreas demarcadas vão inviabilizar o progresso em regiões do país como a Amazônia", etc. ... Estas opiniões têm uma clara intenção: reduzir ainda mais os territórios indígenas, entregar essas terras nas mãos dos latifundiários e de empresas com sede de lucro a qualquer preço e a qualquer custo. Esta cobiça historicamente tem sacrificado principalmente vidas humanas.

O processo de expansão colonial e capitalista ainda não terminou no Brasil. Continua-se ocupando as terras milenares dos povos indígenas. Territórios sagrados e necessários para a existência atual e futura das gerações desses povos ...

A oligarquia rural brasileira ainda alimenta o sonho e a meta de ser dona de sesmarias. Na verdade, o que ocorre mesmo é o oposto dos "comentários" a que nos referimos acima. O que existe no Brasil é muita terra para muito pouco branco.

A estrutura fundiária regista que 1% dos proprietários detém 44 % de todas as terras. Os dados do censo agrícola mostram que dos 376 milhões de hectares cobertos pelos 5,8 milhões de estabelecimentos agrícolas do país, 3,1 milhões de pequenos agricultores têm acesso apenas 10 milhões de hectares, ou seja, 2,67 % do total. No outro extremo, os 50 mil latifúndios com mais de mil hectares, detém 165 milhões de hectares, portanto, 16 vezes mais. O IBGE identificou que 61 estabelecimentos com mais de 100 hectares utilizam para lavoura apenas 0,14 % do total.

Existem hoje no Brasil 4,5 milhões de famílias de trabalhadores rurais sem terra, enfrentando centenas de conflitos e violências em todo o território nacional. Com freqüência, resultam em muitas mortes de trabalhadores e dos seus filhos. Por outro lado, o pernambucano Fernando Geraldo Caminha de Souza, por exemplo, aparece no cadastro do INCRA como o dono de duas glebas ociosas que, somadas, têm cerca de 1.262.500 hectares – pouco mais da metade do Estado de Sergipe ...

ÉM: Revista Porantim. Em defesa da Causa Indígena. N.º 183. Março 1996, p. 7.