Espaço Cultural
do Povo
Xukurú do
Ororubá

PREFÁCIO

De: Aloys I. Wellen (1)

Ao tomarmos conhecimento do trágico assassinato do Cacique Chicão, do Povo de Ororubá, no município de Pesqueira, Pernambuco, ficamos profundamente angustiados e preocupados com o grande desfalque humano sofrido pelo povo amigo – os Xukuru. Juntamente com aquela comunidade, perguntamos, e agora? Como será o destino deste povo de tanta fibra? Povo que se sentiu encorajado pelo cacique para lutar por seus direitos. Povo este que, devido à sua organização e união fraterna tornou-se exemplo para muitos povos indígenas, tanto do Nordeste como de todo o Brasil"?

Nós que, junto a essa brava gente, tentamos ajudá-la na sua sobrevivência, começamos a pensar e a refletir sobre a nossa responsabilidade expressa na forma de contribuir, para que o exemplo de vida, do cacique, tão viva no seio do povo Xukuru, não se apague em nosso meio social. O testemunho deste mártir permanecerá na memória do seu povo.

Na visita de condolências a Dona Zenilda, esposa de Chicão e aos seus familiares e amigos, surgiu então, a idéia de elaborarmos um pequeno e sucinto documentário sobre alguns acontecimentos que culminaram, infelizmente, nesta trágica morte. Entretanto, nossa responsabilidade é grande em continuar a luta, no exemplo que ele deixou para cada um.

Como alguém disse: "Ele (o cacique) fez a sua parte, falta, agora, cada um fazer a sua!"

A amiga Zenilda colocou à nossa disposição o seu arquivo, repleto de muitos recortes de jornais, fotografias, relatórios e outros artigos sobre o Povo Xukuru de Ororubá. Pesquisamos. Apresentamos, portanto, vários acontecimentos que nos parecem marcantes para se compreender, valorizar e divulgar o crescimento do povo Xukuru. O importante é que sobre o sangue deste homem de bem seja edificada a comunidade.

Para uma compreensão mais profunda, e mais fácil, intercalamos no presente documento, algumas reflexões de conhecidos cientistas sociais do Nordeste.

Em seguida, apresentamos as nossas experiências pessoais junto a este admirável povo, adquiridas pelas muitas visitas, que se constituíam em dias de enriquecimento e orientação, junto ao Cacique, às diversas lideranças e muitos amigos, no meio do povo Xukuru. Sentimos na própria pele como neste meio se trabalha para uma vida mais digna, justa e igualitária para todos, sem excluir ninguém. Todos são componentes importantes e cada um, a sua maneira, precisa dar e prestar a sua contribuição. Assistimos e participamos de muitas reuniões de lideranças, dos professores, da Associação, dos criadores e sempre era o mesmo tom de reflexão e análise. Todos são importantes. Cada um tem de assumir o seus trabalho, a sua tarefa, o seu papel específico. Cada um é líder (oficializado ou não), cada um é responsável pelo destino de todos!

Chegou, então, o trágico dia do assassinato do cacique Chicão. Um fato não querido, mas sempre previsto. Quando ele estava trabalhando em prol da sua comunidade, alguém, ainda desconhecido, mas a mando de perversos ricos – só pensando em aumentar a sua riqueza roubada dos pobres e injustiçados – veio e tirou-lhe a vida, acabando com uma parte importante daquele povo de origem indígena. A perda não atinge apenas aquela comunidade. É, também, de todos os povos do Nordeste, do Brasil e de todos os povos indígenas do mundo! Raptaram a vida do lutador que trabalhava incansavelmente em benefício dos pobres, injustiçados, perseguidos e marginalizados. A dor foi imensa. Dor não somente restrita à família e ao povo Xukuru, mas a todos os povos indígenas, principalmente do Nordeste do Brasil.

Diz o ditado que todo mal traz um bem. Os perversos, sem o perceber, fizeram o que não queriam: criaram um mártir, consagraram o grande herói, destacaram e propagaram o exemplo vivo, exemplo para todos! Tanto para os Xukurus, como para os outros povos indígenas, que vivem lutando.

A morte do herói é uma advertência para os carrascos. Porquanto toda a gente espera que se estabeleça a justiça sobre a terra.

Chegamos, assim, a uma reflexão que, certamente, não é completa, nem tão bem feita como Chicão do Povo Xukuru merecia e tão bem sabia fazer. Mas vamos em frente. O exemplo de Chicão é para ser vivido, praticado, divulgado, comunicado a todos que estão neste ideal por dias mais justos, com direitos iguais para todos. 

(1) Aloys I. Wellen é membro da Equipe UEPB / Xukuru.

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